A paixão pela arte, e pelo Evanescence, permeia a trajetória do músico e produtor paulista Vinícius Almes, que apresenta, nos Estados Unidos, o projeto Dance in the Dark

Por Rubens Rodrigues, rubenssrodrigues@gmail.com

“O mundo é grande demais para nascer, viver e morrer no mesmo lugar”. A afirmativa aponta para a jornada de Vinny Almes, de 25 anos, que recomeçou a carreira artística quando deixou São Paulo para morar com a família na Flórida, Estados Unidos, há dois anos.

“Acho que isso sempre existiu na minha cabeça”, diz Vinícius, sobre o projeto Dance in the Dark. As primeiras pinceladas na música que viria a seguir surgiram em um pôr do sol, visto do quintal da própria casa, ao som da trilha sonora de Nightmare on Elm Street, longa-metragem lançado no Brasil como A Hora do Pesadelo (1986).

“Eu estava no fundo do poço emocionalmente. Foi o exato momento para fazer a música que eu adoraria escutar e não encontraria”.

Assim como o slasher movie de Wes Craven, a sonoridade composta por Almes é genuinamente oitentista, com inspiração nas noites de Miami e na cultura do sul da Flórida, mas traz, também, um pouco das referências musicais que explodiram no início dos anos 2000. Fã declarado de Evanescence, o primeiro álbum lançado pelo paulista é claramente influenciado pela arte de Amy Lee. O disco foi intitulado como “You’re Right, I Don’t Deserve”, verso de “The Only One”, uma das canções mais emblemáticas do grupo norte-americano.

  • Vinny Almes por Alex Korolkovas

O artista

Vinny conta que sempre desenhou e percebeu desde cedo a veia artística.

“Me interessei por cores, materiais criativos. Interpretava aos quatro ventos por aí, ainda que grosseiramente, apenas pela vontade de atuar”, lembra.

Aos 14, se inscreveu com amigos em curso livre de teatro. “Tínhamos um dia da semana do qual saímos da escola às 18 horas e estudávamos até meia noite”, conta sobre a época em que foi apresentado a muitas coisas novas e à “música dark”.

Vinícius conciliou os últimos anos na escola com o teatro profissional. Por pouco, não optou por educação física na faculdade.

“Teria que ser artisticamente desafiador. Tinha que ser uma profissão que explorasse um novo setor artístico na minha personalidade”.

Escolheu design de moda, profissão no qual se formou, trabalhou e, agora está “aposentado” até novo aviso.

Antes de deixar seu trabalho com moda, em outubro de 2012, Vinícius realizou o sonho de entregar duas peças suas para Amy Lee (veja a foto acima). As saias foram inspiradas no figurino da artista, com o brilho que Amy não descarta, seja nas roupas ou na própria pele. “Eu acho que ela deveria me contratar, apenas”, ri. “As saias que dei de presente foram exercícios que pratiquei enquanto estudava moda e trabalhava como designer de figurinos”. Na época a banda estava no Brasil na turnê do álbum autointitulado.

A paixão pela banda, aliás, está marcada também na pele de Almes, que tatuou o autógrafo da cantora nas costas.“Sou um EvFan assumido”.

  • Amy agradece ao presente pelo Twitter

Entrevista

Aos 10 anos, você começou a estudar piano e violino. Como foi esse início na música?

Vinny: Eu assistia muita televisão neste tempo e quando passava alguma trilha de piano ou alguém tocando eu ficava encantado e pensava, “eu vou tocar isso ou não me chamo Vinícius”. Então comecei aulas particulares. Isso foi em 2001. Minha mãe me estimulava muito, pois ela sonhava em me ver tocando na igreja, mas eu me converti ao rock.

Apesar de muito novo, você já teve essa introdução. No geral, quais eram suas referências artísticas?

Vinny: Quando eu comecei a estudar música não tinha tantas referências, pois era uma criança ainda, apenas queria entender o instrumento. Um ou dois anos depois eu comecei a escutar rock com minha irmã e meus amigos na escola e nessa época aparecia o Evanescence. Eu levei dois singles da banda pra cair na deles. Então quando vi e ouvi “Going Under” pela primeira vez, eu pensei: “que musica sexy e misteriosa. Quem é essa mulher descrevendo o meu mundo?”.

E agora, quais são suas referências artísticas?

Vinny: São basicamente as mesmas. Eu não menosprezo coisas que apreciava há 15 anos apenas por ter saído de moda, como muita gente faz. Eu também não me recuso a apreciar coisas novas e comerciais (existe preconceito relacionado a isso), pois tem bastante coisa boa sendo feita hoje. O que eu descarto do meu leque criativo é por não ser tão relevante ou marcante para estar ali. Mas basicamente, minhas origens criativas saem de um universo obscuro, sensual, triste e colorido ao mesmo tempo.

Você também fez teatro, estudou design de moda e virou figurinista. O que mudou na sua vida que o levou a essa decisão?

Vinny: Esse período “teatro/moda” durou mais de 10 anos e tive a oportunidade de unir esses dois universos. Trabalhei como figurinista e compositor de trilha sonora para teatro em São Paulo. Isso tudo foi um ou dois degraus na escada da vida, uma fase de correria e muito aprendizado diário.

Você venceu o prêmio Arlequim de melhor figurino, em 2009, e foi indicado nos dois anos seguintes. Qual a importância desse reconhecimento?

Vinny: Esse prêmio foi uma surpresa! O primeiro projeto que desenhei foi selecionado em um espetáculo infantil que participou de um grande festival que acontece todos os anos para os artistas do teatro no Brasil. Meu trabalho foi eleito o melhor figurino para o público infantil daquele ano. Depois mais alguns trabalhos que realizei posteriormente foram indicados. Sinto saudades de fazer isso!

E no meio disso tudo, como estava você com sua própria música?

Vinny: Essa música nunca morreu. Eu sempre toquei piano desde de quando decidi fazer isso. É uma terapia, mas eu nunca tinha feito nenhum projeto profissional com música até o Dance in the Dark.

Quando você começou a compor?

Vinny: Eu tinha uns 15 anos quando fiz minha primeira música. Hoje tenho 25.

Há muita diferença das suas primeiras peças musicais para o material do Dance in the Dark?

Vinny: Um pouco. As trilhas que fazia, que não são muitas, soam mais clássicas, apenas piano. Dance in the Dark tem uma produção eletrônica que eu mesmo executo. Eu comecei a cantar para este projeto, aliás, sempre tive muita insegurança para fazer isso, mas eu me encontrei. Sem cobranças, eu descobri e venho descobrindo minha maneira de cantar e estou bem feliz.

O título do primeiro álbum é também um verso de The Only One, do Evanescence. Qual a influência deles na sua música?

Vinny: “You’re Right, I Don’t Deserve” é um titulo irônico. Eu quero dizer que eu mereço, sim, e também posso me expressar artisticamente. E por que não cantando? Eu demorei em ter um nome para o álbum, mas foi em um dia, escutando “The Only One”, que encontrei isso. Essa música resume o que eu quero dizer com esse disco. Eu só tenho a agradecer ao destino por ser referência a minha banda preferida.

Você apresentou o Dance in the Dark em Little Rock, no Vino’s, que é um local muito vivo no imaginário dos fãs do Evanescence. Como fã qual é a importância de se apresentar lá?

Vinny: Indescritível. Até hoje eu olho e não acredito que meu projeto me levou até ali. Quando eu for para o Brasil conto pessoalmente para vocês, pois é necessário o brilho no olhar para entender.
  • Vinny se apresentando no Vino’s, 2016

O que ficou de mais marcante da sua passagem por Little Rock?

Vinny: Mais marcante que tocar no Vino’s, foi ter sido recebido pelos artistas da noite como atração principal, com muito carinho e interessadíssimos pelo meu projeto, até me pediram “Fuck You, Bitch!”. Isso não tem preço.

Conheça o trabalho do Vinny

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